UM COELHINHO, ainda muito jovem, vivia com sua mãe e mais dois irmãozinhos. Um dia, subindo num monte, viu, pela primeira vez, um mundo desconhecido: vales e montanhas que se estendiam até onde sua vista não podia alcançar.
Voltou para casa e falou com sua mamãe:
-- Vou conhecer o mundo.
-- Mas eu quero conhecer o mundo – respondeu o coelhinho teimoso, e foi logo arrumando a trouxa.
A mãe, com tristeza, despediu o filho, recomendando que tomasse cuidado, e não fosse muito longe. Consolou-se pensando que ele voltaria assim que sentisse fome.
O nosso pequeno aventureiro embrenhou-se na mata, e depois de uma boa hora de caminhada, encontrou-se em lugar completamente desconhecido. Tudo era diferente, tudo muito bonito; estava gostando de conhecer o mundo
De repente, um som estranho, ou melhor, lembrava-se de haver ouvido aquele som. Olhou para trás. Um enorme gavião, com suas garras afiadas, descia para agarrá-lo. Correu, veloz, e quando viu a sombra sobre ele, caiu no chão, achatando-se na relva. O gavião passou, sem conseguir pegar o coelhinho. Este se levantou, e continuando a correr entrou numa pequena caverna. Estava seguro. O gavião não podia entrar ali. Seu coraçãozinho batia a ponto de querer sair pela boca. Tomara um grande susto. Mas não ia desistir de conhecer o mundo.
Ouviu um chocalhar. O que seria isso? – pensou.
Assim que entrara na caverna, preocupado com o gavião, não observou se ali havia mais algum ocupante. Também estava tão escuro! Não podia ver nada. Agora a caverna parecia mais clara. O chocalhar aumentou. Olhou para os lados. Se teve medo do gavião, o susto e o medo dentro da caverna, foi bem maior. Ali, pertinho, com a cabeça erguida, olhando para ele, estava uma terrível cobra – uma cascavel.
A cobra estava prestes a dar o bote. O coelhinho seria, com certeza, comida de serpente.
Mas nosso herói, ainda que com muito medo, não ficou paralisado. Tão rápido quanto entrara, pulou para fora da caverna, fazendo uso de toda a agilidade que tinha em suas pernas. E não parou enquanto não se viu bem longe daquele lugar perigoso.
Continuou a viagem, contemplando a beleza da natureza, e logo se esqueceu da cobra e do gavião.
De cima de um penhasco, avistou um lugar muito bonito, verdejante. Queria chegar até lá, mas não sabia como descer.
Agarrando-se em cipós e galhos de árvores, começou a descer, já que não encontrara caminho mais seguro. De repente o galho em que se segurava quebrou-se e nosso coelhinho despencou.
SERIA O FIM DO COELHINHO AVENTUREIRO?
LEIA O PRÓXIMO CAPIITULO.
NO CAPÍTULO ANTERIOR de nossa história, deixamos o nosso amigo coelho caindo de um grande precipício, na incerteza se escaparia ou não
Ele continuava caindo, caindo, e pensava que ia morrer. Mas teve sorte. Uma grande moita de capim o amparou, não sofrendo nem um arranhão. Que coelho de sorte! Fez um “ufa!”, e já esquecido do perigo que passara estava pronto para continuar a viagem.
Ouviu um ronco, e se assustou. Olhou para os lados, para cima. Nada. O que seria? Escutou e ouviu de novo. Pulou para um lado. Era bem pertinho dele. Começou a pular de um lado para outro, e sempre que parava e escutava, ouvia bem perto. Parou de pular e prestou mais atenção. Ouviu o ronco bem alto. Vinha de dentro dele. Da barriga. Começou a pensar o que seria aquilo. Aí se lembrou de que estava com fome. Era seu estômago que estava roncando, reclamando comida. Saiu andando, esperando encontrar algo para comer.
Que maravilha! Uma horta! Com certeza encontraria cenoura ali.
Achou uma brecha na cerca e entrou. Não teve que procurar muito. Ali havia suculentas cenouras e, sem perda de tempo, arrancou uma e começou a comer. Que delicia! Afinal, estava sendo recompensado por tudo que havia passado desde que começara aquela viagem.
Estava comendo a segunda cenoura, quando um feroz cachorro partiu em sua direção. Foi a maior correria dentro da horta. O cachorro fazendo estrago, na tentativa de pegar o coelhinho, que corria de um lado para outro, procurando o lugar de saída na cerca. O cachorro estava quase alcançando, quando ele viu a brecha na cerca, e ali mergulhou rápido, deixando o cão rosnando do outro lado.
Escapara mais uma vez. Estava começando a duvidar se aquela aventura não iria acabar mal
Mas precisava continuar. O mundo era grande e tinha muita coisa ainda para ver. Parecia que quanto mais andava, mais o mundo crescia, nunca chegando ao fim.
Encontrou um rio. Era muito largo. Nunca tinha visto tanta água. Não podia atravessar. Seguiu andando pela beirada.
Viu um caminho, seguindo por um mato fechado, e foi andando por ele. Sentiu cheiro de comida. Caminhou mais rápido. E, de repente, se viu dentro de uma coisa que se fechou quando ele entrou e não se abria para ele sair. Era uma gaiola. Uma armadilha para coelhos. Tinha comida, mas ele estava preso.
Mais tarde um homem veio, pegou a gaiola com o coelhinho, entrou numa canoa e atravessou o rio.
Nosso amigo coelhinho viu que estava, finalmente, atravessando o rio; mas não estava contente, porque estava preso, e não sabia o que iria lhe acontecer.
QUAL SERÁ A SORTE DO NOSSO COELHINHO?
VEJA A CONCLUSÃO DA HISTÓRIA A SEGUIR.
CHEGANDO EM CASA o homem retirou o coelho de dentro da gaiola e o colocou numa caixa de papelão, recomendando:
-- Não fuja daí.
Mas o que o coelhinho mais queria era fugir. O tempo ia passando, chegou a noite, e tudo se tornou muito escuro, principalmente dentro da caixa.
À noite começou a chover muito forte. O coelhinho, dentro da caixa, ouvia o som dos trovões, e a água caindo no telhado da casa. A casa era velha, com muitos buracos no telhado, e dentro de pouco tempo estava sendo inundada. O coelhinho ouvia o resmungar do homem, removendo objetos.
-- Mas, que chuva! Vai molhar tudo! – reclamava o homem, enquanto andava de um lado para o outro.
Em um desses momentos, empurrou a caixa em que estava nosso amigo coelhinho para um canto, sem prestar atenção. A caixa, que já estava toda molhada, se abriu, e o coelhinho saiu fácil, mas não tinha para onde fugir, pois a porta da casa estava fechada.
Ficou escondido por ali mesmo, aguardando uma oportunidade.
De manhã o homem abriu a porta e saiu. O coelhinho aproveitou a oportunidade e ganhou o mato. Correu, correu, até chegar à beira do rio. O mesmo que havia atravessado de canoa, quando foi apanhado pelo homem. Agora não sabia o que fazer, onde estava, e para onde ir. Perdeu até a vontade de conhecer o mundo.
Pelo rio descia muito galho de árvore e troncos derrubados pela forte chuva. Sem ter rumo certo, saltou em um dos troncos e se deixou levar rio abaixo. Depois de uma longa descida, por fim o tronco encalhou em outros galhos, mas tinha atravessado o rio.
Saltou do tronco e subiu o barranco, triste, pois considerava que estava muito longe de casa e de seus familiares.
Andava de cabeça baixa, sem olhar ao redor.

Seus irmãzinhos quando o viram correram ao seu encontro e o abraçaram, felizes, todos perguntando ao mesmo tempo:
-- Como é o mundo? É bonito?
E ele passou a relatar tudo o que acontecera em sua aventura e, com ar de sabedoria e de experiência, aconselhava os irmãos a não se aventurarem pelo mundo enquanto não estivessem adultos.
FIM
Para minha neta, Milena.
Nanuque-MG, junho/2001